sábado, 23 de maio de 2015

[Cinema] Entre Abelhas


Confesso que pensar no Fábio Porchat estrelando um drama é um tanto curioso, talvez esse seja o maior trufo do filme Entre Abelhas, pensar no distanciamento que a equipe do canal Porta dos Fundos faz de sua linguagem usual e no que aquilo resultaria. Digo que é complicado não ter vontade de rir quando os atores entram em cena, mesmo em suas cenas mais perturbadoras, parece que existe um tom de humor em cada lágrima. 

Bruno entra em depressão após se separar de sua esposa Regina, os amigos tentam ajudar o amigo levando ele para baladas regadas a álcool e mulheres, mas tudo o que ele quer é curtir sua fossa em paz. Em meio a tantos questionamentos do porque ela resolveu se separar dele, Bruno começa a perceber que as pessoas em sua volta somem misteriosamente, simplesmente vão ficando invisíveis sem uma justificativa aparente. 

Trágico imaginar o que a depressão causa em nossas vidas, além do afastamento social podemos ter reações físicas e mentais, criar uma avalanche de outros sintomas e doenças decorrentes da depressão, peças que só o cérebro pode nos pregar e que não conseguimos encontrar uma razão lógica para isso, apenas continuar lutando para que a batalha seja vencida por nós e não pela doença.


Em entrevista o Porchat falou que o roteiro foi inspirado no fato de que com a correria do dia-a-dia não prestamos atenção em quem está ao nosso lado e todos parecem invisíveis aos nossos olhos. Pensei que o filme iria falar sobre isso, aliás ele evoluiu muito bem durante os seus 90 min, mas o final foi uma grande decepção sem sentido. Para quem tinha um grande tema nas mãos, não soube aproveita-lo, ou passar de forma clara ao público, acabou sendo uma grande confusão.

É fato que os "olhos cansados" de Fábio foi um ótimo trufo para a composição do personagem, passando o tom ideal de um homem triste. O silêncio e os cenários vazios nas cenas finais foi um ótimo recurso para internalizar cada vez mais o drama, fazendo com que a construção da doença de Bruno tivesse sua evolução sentida pelo público. 

Confesso que apesar do final, achei a trama bem interessante, mas devido os personagem secundários ele acaba entrando na mesmice: palavrões e machismo sem fim, mas graças a doença de Bruno tais diálogos vão desaparecendo deixando o filme menos sujo. Acho que todos deveriam esquecer um pouco do Porta dos Fundos e dar uma chance ao filme.

bonne nuit, bonne chance

segunda-feira, 18 de maio de 2015

[Música] Dead Fish e Forfun - Noites Ponto.CE



Na sexta passada, dia 15, rolou mais uma edição do Noites Ponto.Ce, com as ilustríssimas presenças de Dead Fish e Forfun me fazendo lembrar que já vão quase 10 anos da primeira vez que vi um show dessas bandas.



O show do Dead Fish como sempre foi elétrico do começo ao fim, uma porrada atrás da outra. Lançando seu 7° cd dentro de 25 anos de estrada, a banda como sempre não decepcionou em nada, com um set misturando todos os álbuns em um pouco mais de uma hora, com um hit atrás do outro, a roda punk não parou um minuto. Ou seja, até agora sinto dores e cansaço pelo corpo todo. Hehehe.


Fechando a noite, a galera do Forfun chegou trazendo na bagagem o seu NU, novo álbum da banda. Mesclando músicas de todos os álbuns, fizeram um show a altura da nova proposta da banda e bem diferente daquele Forfun de 2006, que era uma banda única e exclusivamente de hardcore. A banda colocou todo mundo pra dançar com seus reggaes, funk e seu rock juvenil. Senti falta de vários hits que marcaram em alguns shows, mas como a vida, os sets de shows são assim: é preciso dar espaço para coisas melhores.
Se manter de pé,
Contra o que vier,
Vencer os medos,
Mostrar ao que veio,
Ter o foco ali,
 E sempre seguir
Rumo a vitória!
(Vitória - Dead Fish)

domingo, 17 de maio de 2015

[Livro] Os Domônios de Deus - Alexander Mackenzie

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Se um dia eu tivesse o prazer de conversar com Deus, convidaria ele para ler a Bíblia comigo e me afirmar o que é verdadeiro ou falso nessa história cheia de metáforas. Rodrigo Mazal foi o psicólogo escolhido por Deus para escutar suas queixas, o todo poderoso não aguentava mais a solidão e precisava dividir essa angustia com alguém, mas a sua aparição perturbou até o demônio. 

O todo poderoso está se sentindo sozinho, sua grandeza não supriu a necessidade de ter uma companhia ao seu lado, precisava conversar com alguém e o Rodrigo foi o escolhido, afinal ele virou um renomado psicólogo devido a sua sensibilidade em sentir os problemas alheios. As conversas foram complicadas e descrentes, afinal quem era aquele que dizia ser Deus?

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Dizer que acreditava em tudo o que aquele homem dizia era algo complicado, mas poderia afirmar que ele era bem esperto. Depois de uma conversa de total descrença, Rodrigo resolveu dar o braço a torcer, se Deus queria conversar então vamos entender como tudo começou, o planeta, o homem, os animais, a vida, tudo teria que ser explicado e principalmente, questionado.

Rodrigo é brasileiro radicado no Canadá, psicólogo renomado, autor de diversos livros, um homem sedutor que desperta o libido das mulheres por onde passa. Jane é sua enteada, os dois sempre se deram muito bem, mas agora que ela é uma mulher formada a relação deles começou a ganhar outro sentido. Petra é sua esposa, atualmente é sócia de uma agência de viagens, o casamento não vai muito bem das pernas, mas estão tentando.

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As conversas entre Deus e o Dr Mazal são no mínimo intrigantes, o autor simplesmente pegou algumas passagens da Bíblia e deu outro sentido a elas, mas nada desconexo, simplesmente ele deu o sentido literal aos trechos citados, nada de metáforas, achismos, apenas o literal. Por exemplo, ele afirma que antes de Adão existiu uma primeira tentativa de criar o homem, esse tinha todos os poderes de Deus ele era "sua imagem e semelhança", porém a criação falhou e o modelo inicial teve que ser repensado. 

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Quando uma nova questão ia aparecendo Deus fazia questão de aponta-las na Bíblia, mostrar que o humano era tão estúpido que ele não tinha percebido o obvio escrito de forma tão clara. Eu preferia parabenizar o autor por ter pesquisado antes de mergulhar em uma história tão louca que poderia ter ficado bizarra, ou até mesmo ofensiva aos olhos de muitos. Alias, Alexander você recebeu críticas sobre o fato de ter usado um tema tão delicado como Deus?

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Em todo o enredo é notável que o autor gosta de ressaltar que tudo na vida tem várias verdades, a minha, a sua, a dele, e que nenhuma é pura, ou maldosa em sua totalidade, até Deus pode ser bem egoísta as vezes. Posso dizer que "Os demônios de Deus" é o tipo de enredo que mexe com você, muitas questões são levantadas, questionadas e discutidas, mas não indico a leitura para aqueles que tem uma "verdade absoluta" sobre Deus, é necessário ter a mente aberta para se deliciar com a leitura.

Achei alguns trechos um pouco confusos e algumas passagens poderiam ser mais enxutas, mas a leitura é fácil e rápida, os questionamentos foram sempre relidos, pois eu queria entender por completo o ponto de vista do autor, os capítulos são curtinhos e a diagramação deu ritmo a leitura. Amei o desenrolar dos primeiros mistérios, a narrativa foi bem construída e segurou o suspense até a hora certa, espero que a continuação seja tão empolgante como os últimos capítulos desse livro.

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Algumas passagem com um tom sexual entre o Rodrigo e a enteada me deu um pouco de nojo, não pelo o que estava escrito, mas pelo que se entende daquela relação que deveria ser tão pura, mas o motivo começou a ser revelado e espero que tudo seja justificado. O livro não se resume na conversa entre Deus e Rodrigo, ainda aparece o Demônio, anjos caídos, rituais e outros mistérios que se eu der mais detalhes vai ser um tremendo de um spoiler, haha. RECOMENDO!


bonne nuit, bonne chance

segunda-feira, 11 de maio de 2015

[Música] Carbono - Lenine


Nesse sábado, dia 9, Lenine aterrizou em terras alencarianas para apresentar o seu mais novo "filho" e assim como todo bom pai orgulhoso, apresentou cada trechinho de seu novo CD ao público. Carbono é denso, mas contagiante, posso te dizer que depois de 1h e 45 min de um show iniciado pontualmente, eu também estava orgulhosa, o mercado ganhava mais um trabalho excepcional.

Confesso que pensei que veria um show calmo, parado, com canções bonitas e letras complexas, mas o que aconteceu de fato foi um cara com presença de palco, uma banda inusitada e um público afinado, porque as vezes o cantor se calava, suas músicas são tão presentes e tão verdadeiras que é cantada a plenos pulmões por centenas de pessoas.

Guitarras, baixo, bateria, bandolim, uma combinação que deu ao show um toque de viola, afro jazz, samba e um pedacinho de pernambuco lembrando as origens de Lenine. No palco o cenário era composto por uma grande peça de Carbono produzida pela designer Natália Lana em parceria com Robson de Cassia que cuidou da iluminação 100% sustentável, mas que na verdade era um espetáculo a parte. 


Lenine está renovado, suas emoções e seus ideais foram fortalecidos, sua identidade musical permanece, os estilos vão se diluindo e se fundindo em novas composições, os arranjos, as melodias gritam o DNA do compositor. Nesse álbum Lenine é um verdadeiro Carbono, aos poucos outras moléculas vão sendo atraídas e assim produzindo uma química perfeita.

É inegável a química do show, o músico, a banda, o público, o cenário, a iluminação, tudo aparece em formas livres, mas conectadas em suas essências. Quem esperava ver um show calmo e melódico, se surpreendeu com um Lenine vibrante e contagiante, que em plenos pulmões te convidava para o coro, para a vida. Uma química perfeita.

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz

A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Lenine - Paciência

[Cola&Bora] Clube da Caixa Preta | Sociedade das Relíquias Literárias

Tá sentindo? Brisa de bons ventos, gostinho doce de retorno, cheirinho suave de quem está se reconectando ao que nunca deveria ter sido esqu...